terça-feira, 9 de setembro de 2014

DIVAGAÇÕES- UMA BREVE HISTÓRIA DA BUSCA DO CONHECIMENTO - III

Eu estive dando uma olhada nos posts anteriores e como sei que tenho muitos vícios de linguagem percebi que usei com freqüência o termo “aspirações”.Acho que usei tanto essa palavra porque as aspirações dão origem às fantasias e alegorias que construímos baseadas nas idéias e no conhecimento que a Ciência nos fornece.Mas não! É a Ciência como um todo que nos fornece esse material que comporá nossa imaginação.Nossas fantasias decolam quando olhamos para o infinito ou colocamos nossos olhos diante de um poderoso microscópio .”Para o Infinito e Além”, como diria o Buzz Lightyear de Toy Story  nos defrontamos com a Cosmologia , com a Astrofísica e a Astronáutica .Estamos diante do Macrocosmo , a larga porta do desconhecido .Para além das lentes de um microscópio nos defrontamos com as células,com moléculas,com átomos , com subpartículas.Encontramos uma outra porta , muito mais estreita,pela qual nenhum dos nossos sentidos consegue passar.Estamos nos defrontando com o Microcosmo.Microbiologia,engenharia genética,mecânica quântica,química e física nucleares.A estranheza ou o fascínio que “ esses dois Cosmos” nos provocam é que ambos remetem a uma mesma aspiração(lá vou eu de novo !) : Desvendar a Criação!
É aqui que as coisas se complicam(ou não!como diria Caetano).
Desde a mais remota antiguidade o Conhecimento sempre esteve nas mãos dos sacerdotes de todas as civilizações,cada qual com uma narrativa ou lenda que contava os dias e o processo da Criação.Os Céus tinham vários nomes, o Inferno outros tantos , uma profusão de deuses e semideuses ,imortais e outros que morrendo transformavam-se em estrelas e constelações que povoavam o infinito.Na terra os reis e faraós eram descendentes de deuses e governavam os povos ditando-lhes normas jamais questionadas , sob o risco de serem levados pela barca de Caronte , ou terem suas almas destruídas pelo Ammit, ou conhecer de perto a Geena,o Sheol ou o Hades , ou , simplesmente, serem conduzidos para o Quinto dos Infernos !
O poder mantinha-se pela detenção do conhecimento.Não vamos nos estender muito sobre isso , senão acabaremos num Tratado de mil posts .
Só para adicionar um último componente a essa realidade, os poderes dos sacerdotes incluíam procedimentos mágicos , dando origem ao misticismo , um conjunto de conhecimentos baseados no mistério da divindade que conferia aos “ iniciados” um poder sobrehumano.Um exemplo que reúne a disputa do poder pelo conhecimento  e  que inclui o misticismo é narrado no Êxodo, quando Arão se defronta com o Faraó e os magos da corte .(Let my people GO!)
Aqui damos um salto e vamos fuçar na Filosofia.
Embora o conhecimento fosse mantido em rédeas curtas pelo poder , sempre foi inevitável ao  homem , enquanto indivíduo perguntar-se a si próprio sobre suas origens e sobre a origem do meio ambiente em que vive , sobre a sucessão de dias e noites,do calor e do frio , do florescer e do amarelar das flores e folhas do campo.A Filosofia como a conhecemos nasceu na Grécia , a partir de homens que tiveram a coragem de externar suas opiniões e mesmo normatizar conceitos de conduta.Os primeiros conceitos de átomo nasceram na Grécia através das proposições de Leucipo e Demócrito.
A Filosofia lançou bases para o desenvolvimento de todas as áreas do conhecimento humano.Propôs a elaboração de métodos,discutiu a natureza das idéias e através da Lógica elaborou códigos de argumentações.
Mas a Filosofia acabou por se tornar , também,uma inconveniência ao Poder , uma vez que se utilizava da oratória e da retórica como meios de expressão e isso impressionava as massas .Assim , pensadores que questionavam os hábitos do Poder eram considerados “personae non gratae”.Era necessário colocar rédeas , senão na Filosofia , nos filósofos.Em todos as épocas muitos foram banidos e muitos condenados à prisão ou mesmo a morte.
O caso mais clássico é representado por Sócrates .
Sócrates não fundou nenhuma  escola do pensamento.Incomodava muito mais as autoridades falando em praça pública , ensinando de graça , principalmente a uma geração de jovens .Não demorou para que  ‘Diké’, a deusa grega da justiça viesse a lhe pedir contas.O pensador era acusado de crimes políticos e de sedução de jovens.Sócrates opunha-se à Democracia Aristocrática vigente em Atenas , por considera-la uma hipocrisia(ele já sabia das coisas !).
A breve sentença que recebeu foi essa : “’ Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte”.
Na realidade , Sócrates não foi condenado à morte, e sim ao banimento, ou , como opção ter a sua língua cortada para que não pudesse mais falar ao povo.Ele escolheu a morte.
Foi-lhe concedida a oportunidade de defender-se , o que ele fêz,mas preferiu encerrar sua vida e deixar uma semente, um legado que embora raras vezes vencedor perpetua-se ,assim como o Poder :”
 Acabais de condenar-me na esperança de ficardes livres de dar contas das vossas vidas; ora é exatamente o contrário que vos acontecerá, asseguro-vos . Pois se vós pensardes que matando as pessoas, impedireis que vos reprovem por viverem mal, estais em erro. 
Como acertadamente faz notar o filósofo francês Jean Brun :” O processo e a condenação de Sócrates testemunham o perigo que a ignorância faz correr ao Saber, que o mal faz correr à virtude. Mas este perigo não é senão aparente, pois, na realidade, é o justo que triunfa dos seus carrascos. Se bem que seja vítima deles, o triunfo de Sócrates sobre os seus juízes data do dia da sua execução.”
Com o passar do tempo , embora a Filosofia tenha criado correntes de pensamentos ,métodos científicos,bases para  o surgimento de sistemas políticos e códigos de moral e ética(cujas mudanças acompanhariam o surgimento de novos tempos ), ela tornou-se um imenso arquivo de idéias prontas para discussões e uma fonte de assuntos que seriam tratados apenas como assuntos sem efeitos práticos e sem a capacidade de mudanças na realidade suscetível de mudanças.
Um exemplo claro desse quadro foi o discurso de Paulo no Areópago.
Diante das estátuas de tantos deuses , todos identificados havia a estátua “ ao deus desconhecido “.Os atenienses reuniram-se para ver e escutar Paulo discursar.Mas, ao final, quando Paulo pediu para que identificassem tal deus a conversa mudou , ou melhor , Paulo ficou falando sozinho ! O povo não queria mudanças :” Acerca disso te ouviremos em outra ocasião.”
Ou seja , deixa o deus sem plaquinha que  ainda vai render um bom papo !
Assim , não creio que a Filosofia possa oferecer as respostas que normalmente fazemos , assim como a Ciência não as oferece.Uma porque sempre foi monitorada por interesses diversos que modernizando-se, continuam a impedir um livre pensar.Sua evolução foi truncada, por um lado tornando-se um arquivo de escolas do pensamento e por outro atualizando-se não por via de novos conceitos , mas através da discussão inócua “do pensamento dos pensadores”.A Ciência não oferece as respostas que procuramos porque não aceitamos nossas limitações , o que nos torna infelizes e inconformados fazendo-nos buscar o ilimitado em fontes que nos levam de volta à antiguidade fazendo ressurgir “ segredos” , métodos e iniciações que se travestem de conhecimento.
Estou sem tempo para continuar escrevendo , mas quero deixar alguma coisa alinhavada para o próximo post e  quem sabe eu consiga encerrar o assunto .
Do meu ponto de vista a Ciência lida com o conhecimento e a Religião lida com a fé .
Ambas colocadas em seus caminhos originais não provocam conflitos.
Mas, voltando aos domínios de  uma coisa pela outra vamos cair na Roma Antiga por volta do ano 306 de nossa era.(vamos viajar no tempo ?).
Lá encontramos CONSTANTINO , Imperador , general, educado na aristocracia romana, lutou em várias campanhas do decadente Império Romano , já dividido.Sob seu comando ele tinha a Britânia,a Germânia,a Hispania e a Gália.Notaram ? A seu tempo ele era dono da União Européia!
Constantino queria ser mais do que imperador.Ele foi um ursurpador e queria para si o título de Augustus , o que acabou conseguindo , inclusive traindo Roma para beneficiar Lucio Domício Alexandre que também usurpava os territórios da África.
Constantino não tinha legitimidade e conseguiu impor-se pela força.Mas, para a vitória ser completa ele precisava da aprovação do povo.Embora Roma proibisse manifestações religiosas que não fossem em honra a seus deuses e aos seus imperadores o cristianismo já havia se difundido tanto que, politicamente seria uma burrice continuar a persegui-lo promovendo massacres como os promovidos pelos seus antecessores.Constantino era ambicioso e amoral.
Antes , ele havia se colocado sob a proteção de Hércules , o deus de Maximiliano.Depois , para obter a simpatia dos soldados que comandava colocou-se sob a proteção de Invictus , o deus sol das legiões romanas.
Agora , diante das novas conquistas e prestes a conseguir o que sempre ambicionou ele teve um conveniente sonho.Ele sonhou com uma cruz que  tinha a seguinte inscrição: “ In hoc signo vinces”-“ Com esse símbolo Vencerás !”.
Ao acordar ele se converteu ao Cristianismo.O povo não seria mais perseguido….nascia a Igreja Católica!

Nenhum comentário:

Postar um comentário