Eu
estive dando uma olhada nos posts anteriores e como sei que tenho muitos vícios
de linguagem percebi que usei com freqüência o termo “aspirações”.Acho que usei
tanto essa palavra porque as aspirações dão origem às fantasias e alegorias que
construímos baseadas nas idéias e no conhecimento que a Ciência nos fornece.Mas
não! É a Ciência como um todo que nos fornece esse material que comporá nossa
imaginação.Nossas fantasias decolam quando olhamos para o infinito ou colocamos
nossos olhos diante de um poderoso microscópio .”Para o Infinito e Além”, como
diria o Buzz Lightyear de Toy Story nos defrontamos com a Cosmologia ,
com a Astrofísica e a Astronáutica .Estamos diante do Macrocosmo , a larga
porta do desconhecido .Para além das lentes de um microscópio nos defrontamos
com as células,com moléculas,com átomos , com subpartículas.Encontramos uma
outra porta , muito mais estreita,pela qual nenhum dos nossos sentidos consegue
passar.Estamos nos defrontando com o Microcosmo.Microbiologia,engenharia genética,mecânica
quântica,química e física nucleares.A estranheza ou o fascínio que “ esses dois
Cosmos” nos provocam é que ambos remetem a uma mesma aspiração(lá vou eu de
novo !) : Desvendar a Criação!
É
aqui que as coisas se complicam(ou não!como diria Caetano).
Desde
a mais remota antiguidade o Conhecimento sempre esteve nas mãos dos sacerdotes
de todas as civilizações,cada qual com uma narrativa ou lenda que contava os
dias e o processo da Criação.Os Céus tinham vários nomes, o Inferno outros
tantos , uma profusão de deuses e semideuses ,imortais e outros que morrendo
transformavam-se em estrelas e constelações que povoavam o infinito.Na terra os
reis e faraós eram descendentes de deuses e governavam os povos ditando-lhes
normas jamais questionadas , sob o risco de serem levados pela barca de Caronte
, ou terem suas almas destruídas pelo Ammit, ou conhecer de perto a Geena,o
Sheol ou o Hades , ou , simplesmente, serem conduzidos para o Quinto dos
Infernos !
O
poder mantinha-se pela detenção do conhecimento.Não vamos nos estender muito
sobre isso , senão acabaremos num Tratado de mil posts .
Só
para adicionar um último componente a essa realidade, os poderes dos sacerdotes
incluíam procedimentos mágicos , dando origem ao misticismo , um conjunto de
conhecimentos baseados no mistério da divindade que conferia aos “ iniciados”
um poder sobrehumano.Um exemplo que reúne a disputa do poder pelo
conhecimento e que inclui o misticismo é narrado no Êxodo, quando
Arão se defronta com o Faraó e os magos da corte .(Let my people GO!)
Aqui
damos um salto e vamos fuçar na Filosofia.
Embora
o conhecimento fosse mantido em rédeas curtas pelo poder , sempre foi
inevitável ao homem , enquanto indivíduo perguntar-se a si próprio sobre
suas origens e sobre a origem do meio ambiente em que vive , sobre a sucessão
de dias e noites,do calor e do frio , do florescer e do amarelar das flores e
folhas do campo.A Filosofia como a conhecemos nasceu na Grécia , a partir de
homens que tiveram a coragem de externar suas opiniões e mesmo normatizar
conceitos de conduta.Os primeiros conceitos de átomo nasceram na Grécia através
das proposições de Leucipo e Demócrito.
A
Filosofia lançou bases para o desenvolvimento de todas as áreas do conhecimento
humano.Propôs a elaboração de métodos,discutiu a natureza das idéias e através
da Lógica elaborou códigos de argumentações.
Mas
a Filosofia acabou por se tornar , também,uma inconveniência ao Poder , uma vez
que se utilizava da oratória e da retórica como meios de expressão e isso
impressionava as massas .Assim , pensadores que questionavam os hábitos do
Poder eram considerados “personae non gratae”.Era necessário colocar rédeas ,
senão na Filosofia , nos filósofos.Em todos as épocas muitos foram banidos e
muitos condenados à prisão ou mesmo a morte.
O
caso mais clássico é representado por Sócrates .
Sócrates
não fundou nenhuma escola do pensamento.Incomodava muito mais as
autoridades falando em praça pública , ensinando de graça , principalmente a
uma geração de jovens .Não demorou para que ‘Diké’, a deusa grega da
justiça viesse a lhe pedir contas.O pensador era acusado de crimes políticos e
de sedução de jovens.Sócrates opunha-se à Democracia Aristocrática vigente em
Atenas , por considera-la uma hipocrisia(ele já sabia das coisas !).
A
breve sentença que recebeu foi essa : “’ Sócrates
é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de
introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude.
Castigo pedido: a morte”.
Na
realidade , Sócrates não foi condenado à morte, e sim ao banimento, ou , como
opção ter a sua língua cortada para que não pudesse mais falar ao povo.Ele
escolheu a morte.
Foi-lhe
concedida a oportunidade de defender-se , o que ele fêz,mas preferiu encerrar
sua vida e deixar uma semente, um legado que embora raras vezes vencedor
perpetua-se ,assim como o Poder :”
“ Acabais
de condenar-me na esperança de ficardes livres de dar contas das vossas vidas;
ora é exatamente o contrário que vos acontecerá, asseguro-vos . Pois se vós
pensardes que matando as pessoas, impedireis que vos reprovem por viverem mal,
estais em erro. “
Como
acertadamente faz notar o filósofo francês Jean Brun :” O
processo e a condenação de Sócrates testemunham o perigo que a ignorância faz
correr ao Saber, que o mal faz correr à virtude. Mas este perigo não é senão
aparente, pois, na realidade, é o justo que triunfa dos seus carrascos. Se bem
que seja vítima deles, o triunfo de Sócrates sobre os seus juízes data do dia
da sua execução.”
Com
o passar do tempo , embora a Filosofia tenha criado correntes de pensamentos
,métodos científicos,bases para o surgimento de sistemas políticos e
códigos de moral e ética(cujas mudanças acompanhariam o surgimento de novos
tempos ), ela tornou-se um imenso arquivo de idéias prontas para discussões e
uma fonte de assuntos que seriam tratados apenas como assuntos sem efeitos
práticos e sem a capacidade de mudanças na realidade suscetível de mudanças.
Um
exemplo claro desse quadro foi o discurso de Paulo no Areópago.
Diante
das estátuas de tantos deuses , todos identificados havia a estátua “ ao deus
desconhecido “.Os atenienses reuniram-se para ver e escutar Paulo
discursar.Mas, ao final, quando Paulo pediu para que identificassem tal deus a
conversa mudou , ou melhor , Paulo ficou falando sozinho ! O povo não queria
mudanças :” Acerca disso te ouviremos em outra ocasião.”
Ou
seja , deixa o deus sem plaquinha que ainda vai render um bom papo !
Assim
, não creio que a Filosofia possa oferecer as respostas que normalmente fazemos
, assim como a Ciência não as oferece.Uma porque sempre foi monitorada por
interesses diversos que modernizando-se, continuam a impedir um livre
pensar.Sua evolução foi truncada, por um lado tornando-se um arquivo de escolas
do pensamento e por outro atualizando-se não por via de novos conceitos , mas
através da discussão inócua “do pensamento dos pensadores”.A Ciência não
oferece as respostas que procuramos porque não aceitamos nossas limitações , o
que nos torna infelizes e inconformados fazendo-nos buscar o ilimitado em
fontes que nos levam de volta à antiguidade fazendo ressurgir “ segredos” ,
métodos e iniciações que se travestem de conhecimento.
Estou
sem tempo para continuar escrevendo , mas quero deixar alguma coisa alinhavada
para o próximo post e quem sabe eu consiga encerrar o assunto .
Do
meu ponto de vista a Ciência lida com o conhecimento e a Religião lida com a fé
.
Ambas
colocadas em seus caminhos originais não provocam conflitos.
Mas,
voltando aos domínios de uma coisa pela outra vamos cair na Roma Antiga por
volta do ano 306 de nossa era.(vamos viajar no tempo ?).
Lá
encontramos CONSTANTINO , Imperador , general, educado na aristocracia romana,
lutou em várias campanhas do decadente Império Romano , já dividido.Sob seu
comando ele tinha a Britânia,a Germânia,a Hispania e a Gália.Notaram ? A seu
tempo ele era dono da União Européia!
Constantino
queria ser mais do que imperador.Ele foi um ursurpador e queria para si o
título de Augustus , o que acabou conseguindo , inclusive traindo Roma para
beneficiar Lucio Domício Alexandre que também usurpava os territórios da
África.
Constantino
não tinha legitimidade e conseguiu impor-se pela força.Mas, para a vitória ser
completa ele precisava da aprovação do povo.Embora Roma proibisse manifestações
religiosas que não fossem em honra a seus deuses e aos seus imperadores o
cristianismo já havia se difundido tanto que, politicamente seria uma burrice
continuar a persegui-lo promovendo massacres como os promovidos pelos seus
antecessores.Constantino era ambicioso e amoral.
Antes
, ele havia se colocado sob a proteção de Hércules , o deus de
Maximiliano.Depois , para obter a simpatia dos soldados que comandava
colocou-se sob a proteção de Invictus , o deus sol das legiões romanas.
Agora
, diante das novas conquistas e prestes a conseguir o que sempre ambicionou ele
teve um conveniente sonho.Ele sonhou com uma cruz que tinha a seguinte
inscrição: “ In hoc signo vinces”-“ Com esse símbolo Vencerás !”.
Ao acordar ele se
converteu ao Cristianismo.O povo não seria mais perseguido….nascia a Igreja
Católica!
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