domingo, 5 de outubro de 2014

ESPELHO , ESPELHO MEU !

 

Espelho, espelho meu ,existe alguém mais bela(o) de que eu ?
Espelho, espelho meu. existe alguém mais capaz do que eu ?
......mais culto(a)?
......mais inteligente?
......mais carismático(a)?
-Espelhos de todo o mundo uni-vos !!
Que tarefa mais ingrata !Todos os dias a mesma coisa.Todos os dias as mesmas perguntas.
Esse é o bom dia que milhares( talvez milhões) de Narcisos dão aos seus espelhos diariamente.
Se falamos na Vaidade, enquanto auto estima, ela faz bem.Faz bem porque é comedida e honra nossa condição humana.Mas, a Vaidade que ensoberbece não é simplesmente um defeito, é um vício, que como todos os outros vícios,tende a agigantar-se dominando nossa vontade e tornando-nos escravos de nossa própria imagem , pior,da imagem que construímos de nós mesmos,utilizando a argamassa da prepotência .Esse tipo de vaidade e o orgulho descomedido costumam andar juntos.Pelo orgulho descomedido passamos a acreditar na nossa superioridade e a vaidade encarrega-se de despertar nos outros o elemento de persuasão.
A idéia não é minha.Schopenhauer(As dores do Mundo) já a professava no século XIX.
Intrigante é o fato de que os narcisistas atuam de maneira contrária ao mito policiando-se constantemente nos espelhos de suas almas para manterem viva a aparência de superioridade.
Reza a lenda que Narciso era filho de deuses , a saber de Céviso e Liríope.
Tirésias , o adivinho,vaticinou que  Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.Numa das muitas versões da história Narciso consumiu-se, de desgosto, transformando-se numa flor(a que leva seu nome) por contemplar sua imagem refletida nas águas de um lago, tentando enxergar nela a imagem de sua amada irmã.
Já na Grécia antiga a Vaidade era tida como um pecado que causava tragédias.Assim como outros fatos lembrados .a Vaidade atravessou eras e chegou aos nossos dias.
 Utilizada de diversas maneiras ou absorvida em diferentes graus pela personalidade humana ela fêz surgir o culto à imagem.A imagem estética ou a imagem do sucesso, da superioridade, da capacidade e, conseqüentemente, da arrogância .
Lembrando,novamente, Schopenhauer , num abuso de generalização, ele dizia que “Nas pessoas de capacidade limitada, a modéstia não passa de mera honestidade, mas em quem possui grande talento, é hipocrisia.”
Mesmo nas pessoas de grande talento e grande simplicidade há um momento em que haverá um pequeno escorregão , e talvez na falta de encontrar uma ferramenta ou expressão adequada ao seu alcance à superioridade vem à tona e, talvez por isso ela seja julgada.
Já, na antiguidade o sábio pregador proclamava :”Vaidade de vaidades!Vaidade de vaidades ! Tudo é vaidade !E hoje a mídia proclama “ Ama-te a ti mesmo !”São comerciais,são produtos, são cosméticos,são Reality Shows,são cursos que prometem tornar as pessoas “ diferenciadas”.E o reflexo de tudo isso sentimos no convívio , nas novas formas de comunicação das pessoas.
Infelizmente a vaidade e orgulho descomedidos dão origem à ganância.O espelho acaba por deformar a imagem de quem olha e surge o espírito de domínio,o desejo incontrolável de poder, de reconhecimento.A imagem de quem assim se vê ofusca a imagem de seus semelhantes e o narcisista passa a não percebe-los.A política é um grato exemplo dessa idéia .
O Homem é o único animal que tem consciência de si mesmo.
Bom seria que essa consciência abrangesse a coletividade podendo assim gerar troca de experiências e repartindo o que temos e o que somos para substituir o domínio pelo equiíbrio.
De maneira recorrente eu abordo Oscar Wilde e seu “ Retrato de Dorian Gray”,uma obra fabulosa,talvez, porque fantástica no seu mais amplo sentido.Na obra, fazendo atenção ao tempo e não ao quadro podemos perceber que o verdadeiro Narciso é o próprio tempo , pois permanece indiferente à todas as nossas mudanças.
Assim, seria prudente antes de nos cultuarmos olhar esse algoz que não se importando com nossa vaidade estética ou superioridade intelectual pode nos ceifar um e outro transformando-nos em vida apenas num reflexo embaçado da imagem que um dia projetamos no nosso espelho.Não haverá Ego ou alter ego que o faça brilhar novamente.Talvez enxerguemos nele somente um borrão ,ou ainda viva , nossa presunção nos faça enxergar uma flor.Mas seremos apenas isso,a representação da beleza que insistimos em enxergar,mas o espelho , ainda que perguntado já não oferecerá resposta alguma,pois como já dizia o sábio Cartola, as rosas não falam(nem narcisos,nem flor alguma !)





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