Desde a invenção desse instrumento os mais renomados
fabricantes tem lutado para ocupar permanentemente o podium.
Críticos esmeram-se na análise de detalhes para eleger os
melhores, ou o melhor , caso das marcas citadas no post anterior.
Cheguei à conclusão de que instrumentos construídos com
materiais de boa qualidade e com esmerados mecanismos não podem ser
classificados como “ melhores ou piores”.Em outras palavras , um instrumento
que dura , pelo menos 50 anos é uma questão de gosto pessoal !
Há pouco tempo atrás experimentei um Steinway Hamburg(que
estava à venda, não que eu fosse comprar,rsrsr) e , a não ser o fato de ter um
excelente som e uma boa afinação não me
disse nada .Piano pesado , teclas duras , pedais baixos...mas o atendente me
disse que “ o técnico poderia ajustar o instrumento conforme meu
gosto”.Naturalmente , isso pode ser feito em qualquer piano , desde a afinação
até detalhes como velocidade de repetição e demais “ temperos” que fogem à
noção usual de afinação .
Escolhi falar, inicialmente, sobre esses dois pianos, não
porque tenha algum tipo de conhecimento extraordinário, mas porque fizeram parte de minha experiência pessoal .
Aprendi as primeiras notas , os primeiros acordes, as primeiras
harmonias num Bechstein .Um herói , com teclas de marfim amarelecidas pelo uso
e pelo tempo, sempre pronto a receber mãos inábeis – e que me traz amargas recordações .
Ele foi responsável pelo meu gosto pela música e pela
minha desistência em aprende-la .Eu explico :
Nasci estranho , com o que chamam de ouvido absoluto( vim
a saber muito tempo depois ).Sem entender porque , a música tinha um
significado muito especial para mim e, freqüentemente, eu achava que as músicas
que me eram dadas a estudar ficavam melhor, soavam melhor com certas
modificações.Esse era o meu calvário !
Na hora de apresentar a música à minha professora eu a
tocava como entendia que devia ser, e
ela , nos seus freqüentes acessos de fúria pegava-me pelo pescoço e lançava
minha cabeça contra a tampa do piano .Criança que era, aturei aquilo até ir
para um seminário salesiano , onde o professor de música , padre João ,
carinhosamente conhecido como “João Dedão”(porque seus dedos eram tão grossos
que sempre tocava duas teclas ao mesmo tempo e cuja paciência e método não
diferiam muito de sua predecessora.
Bem , o assunto era o piano não minhas desventuras ! Os
pianos C.Bechstein eram considerados os melhores do mundo até antes da segunda
guerra mundial quando teve sua fábrica destruída por bombardeios.Mas, os
herdeiros conseguiram reconstruí-la e agora, tinham um concorrente de peso , o
Steinway .Muito antes de tudo isso grandes compositores e virtuoses o tiveram
como marca preferida. Liszt e Debussy são dois que devem ser mencionados
.Debussy chegou a dizer que todas as músicas deviam ser compostas para serem
executadas num Bechstein.Mas , se quisermos falar em “ pureza de qualidade” não
podemos comparar produtos que foram produzidos após a segunda guerra
mundial.Após esse período e contornando várias dificuldades financeiras com
ajuda governamental a Bechstein acabou por fazer parceria com outros produtores
, absorveu outras marcas e acabou nas mãos da Baldwin americana.Já em tempos
atuais foi recomprada pelo capital alemão e seguiu , assim como todas as
indústrias que sobreviveram às diversas crises, o destino da globalização
.Assim , se você pensa em tocar um
Bechstein hoje ,você poderá estar tocando um Zimmerman ou um Samick coreano
.Avaliações são penosas para os puristas porque muitos fatores tem que ser
levados em conta, como data de fabricação , série e número bem como o local.Um
outro fator que fêz com que a C,Bechstein perdesse muito da simpatia dispensada
pelos seus admiradores foi o fato que os herdeiros de Carl Bechstein nutriam
grande atração por Hitler e as idéias nazistas.Bem , vou parar por aqui porque
a história da Bechstein esta toda na internet, Ao invés disso, convido o leitor
a escutar o som de um Bechstein pelas mãos de Robert Estrin, com quem conversei
algumas vêzes.
Da mesma forma que os Bechstein os Pleyel foram exportados para o mundo
todo.Embora considerada uma marca de excelência nunca chegou a ameaçar as
outras grandes que sempre estiveram em evidência.Curiosamente , muito das
idéias e tecnologia de construção do piano foram aprendidas por muitos artesãos
na França e na Inglaterra e levadas para outros países com esforços de
aperfeiçoamento .Esse foi o caso de Carl Bechstein .
Ignace Pleyel era músico e compositor tendo sido aluno de
Haydn.
Em 1807 Pleyel associa-se com Karl Lemme , um fabricante
de instrumentos que havia vindo da Alemanha e pouco depois nascia o primeiro
Pleyel.Ignace abandona suas outras atividades e junto de seu filho Camile e de
sua nora Marie Denise Pleyel dedica-se exclusivamente à fábrica.
No século XIX as salas de audiência eram moda e, seguindo
essa tendência , em 1832 é inaugurada a SALLE PLEYEL com o primeiro concerto
dado por ninguém menos do que Frederic Chopin.Bem , vou deixar a história para
quem se interesse porque, também está disponível na internet.
Infelizmente, a Pleyel não teve a mesma sorte que a
Bechstein.As diversas crises e a falta de apoio governamental fizeram com que a
fábrica encerrasse definitivamente as atividades em 2013.
Aqui , novamente, abordo a “ pureza de qualidade” .Creio
que podemos falar de um Pleyel , como tal até 1960.A partir daí , vendida em
leilão promovido pelo Banco Credit Lyonnais, a Pleyel perdeu muito de sua
identidade e qualidade. Associações com a Erard-Gaveau,a aquisição completa
pela Schimmel na década de 1970. a nova recompra da fábrica pelos atuais
proprietários da Salle Pleyel despersonalizaram uma obra de arte com 200 anos
de história .
Eu já comentei duas ou três vêzes por aqui o meu
fascínio(que permanece) ao ter o privilégio de experimentar um Pleyel Grand
Concerto na loja de um amigo meu .Cheguei a comentar com diversas
pessoas(porque meu entusiasmo era grande) e cheguei , mesmo , a questionar
Valentina Lisitsa(via Facebook) o porque de não se ver um Pleyel nos concertos
de diversos artistas .Ela que possui e só toca( na maioria das vêzes) em
Bösendorfers – e que disse possuir um Yamaha no seu apartamento em Paris onde
coloca as compras do supermercado quando chega em casa(!)( os japoneses não
devem ter gostado da referência visto que são acionistas da Bösendorfer,
rsrsrsrs) respondeu-me que jamais tinha visto algum Pleyel , a não ser
encostados em algum canto nos porões das salas de audiência .
Estou contando isso porque ao receber aviso de sua
apresentação na Salle Pleyel, tive confirmado meu fascínio , uma vez que
Valentina , ao experimentar diversos pianos para sua apresentação foi tomada ,
também , por essa admiração .
Traduzindo suas impressões :
“ Ontem eu fui até a Pianos Reggie para escolher o piano
do meu próximo recital na Salle Gaveau , em Paris .A Reggie Pianos tem uma
incrível coleção de “ Grand Concertos”( mas nenhum Imperial(Bösendorfer).
Experimentei algo como 5 Steinways , um melhor que o outro
, até que .....eu vi esse , recatadamente separado dos outros .Eu perguntei o
porque disso e eles me disseram que era o único piano do qual eles tinham
orgulho e que nenhum concertista atrevia-se a aluga-lo . Eu tentei ....e meu
coração se derreteu.O som gravado que vocês escutam não faz jus ao seu
som.Venham ao concerto e escutem ! ......”
Aqui está :
Essas são algumas impressões de um leigo , sem ter medo de
ser feliz !
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