Clarice
Lispector sendo um ícone de nossa literatura, resolvi fazer um gancho ,
mostrando algumas facetas da obra e da pessoa da artista.
A obra de Clarice Lispector tem sido analisada de
diversas maneiras e por diversos ramos da Ciência Humana, desde a Literatura
até a Psicologia , passando pela Filosofia.
Cabe
aqui perguntar, o que é um artista; o artista nasce ou uma pessoa torna-se
artista ?Em qualquer das hipóteses a sensibilidade ,a percepção de um universo
segundo seus próprios parâmetros e pontos de vista parecem ser a chave mestra
que desencadeia o processo criativo.Oscar Wilde , em uma de suas declarações disse que
o público não interessava para o artista.E esse parece ser o Universo de
Clarice Lispector.
Clarice
era depressiva ,levada em suas reações por um profundo sentimento de
culpa.Disse ela numa entrevista que “ escrevia quando não estava morta”.
Ao se ler Clarice a gente é levado por uma sensação que
nos absorve por completo e viajamos com suas palavras e num instante seguinte somos freados
bruscamente por expressões incontroláveis de uma psique perturbada.
Mas
do que Clarice Lispector achava-se culpada ?
Segundo
ela , por ter nascido ....
Ou
por ter nascido sem ser aquele remédio
milagroso que pudesse salvar a sua mãe .
Vejamos
:
“ O pudesse eu um dia escrever uma espécie de
tratado sobre a culpa. Como descrevê-la? Aquela que é irremissível, a que não
se pode corrigir? (...) A culpa em mim é algo tão vasto e tão enraizado que o
melhor ainda é aprender a viver com ela”
E outra vez:
“(...) fui preparada para ser dada à luz de um modo tão
bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante
espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença.
Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei
minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma
missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma
guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em
vão e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdôo.”
Quanto à importância que dava à critica , era nenhuma , pois jamais considerou-se uma escritora profissional :
Quanto à importância que dava à critica , era nenhuma , pois jamais considerou-se uma escritora profissional :
“Façam
eles o que querem de minhas palavras, pouco me importa se as enfiam em suas
mochilas ou bolsos rasgados, se as mastigam ou engolem “
Clarice
viveu o inferno astral que perturba o artista.Culpa e compaixão são constantes
em sua obra.O que pode parecer mestria de literato no domínio e controle das
palavras não existiu
em
seus escritos.Num sentido geral tudo terminava numa explosão , desde a raiva
até o conformismo.
Muitas
frases de amor de sua autoria são publicadas na internet como se fossem modelos
de comportamento e sentimentos a serem assumidos por quem busca respostas .Mas
toda a obra de Clarice Lispector é de natureza existencialista e o perigo de
entendimento esta no separar trechos isolados ou parágrafos que acabam por
cortar o verdadeiro significado e a idéia geradora da obra.
Norteada
por seus próprios e íntimos conflitos ela foi capaz de traduzir obras
grandiosas presenteando-nos com a mesma grandiosidade com que foram criadas
reconstruindo as atmosferas originais em nosso idioma.Exemplo disso é “O
Retrato de Dorian Gray”.
Muitos
artistas retrataram a angústia humana , quer seja na lieratura , na pintura ,
na fotografia ou em qualquer outro ramo das artes.Clarice esta entre eles.Sua
obra não foi feita para se ler em fragmentos ou nas horas vagas .Ela tem que
ser lida, sentida e entendida .
Aqui
coloco a primeira parte de uma entrevista que ela concedeu à TV Cultura.As
outras estão na seqüência no You Tube.
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