A Língua Portuguesa é riquíssima e intensa .Por esse aspecto nosso
idioma abriga obras sublimes e a poesia
encontra a ferramenta certa de expressão exibindo intensidade inigualável.
A Poesia expressa um sentimento, fazendo uso da linguagem como ferramenta
estética.O material da arte brota dentro do artista e ao externa-lo,a obra toma
forma e o artista diminui.A “gestação” desse material é um processo complicado
pois,sendo expressão humana e metafísica, esta sujeito às emoções e às
experiências vividas por quem cria
arte.
Florbela Espanca não é exceção.Ao contrário,é o típico exemplo de um
caldeirão de emoções , que , em ebulição ,expele de maneira rítmica ,porém
vigorosa ,seu inconformismo e seu desencanto para com a vida.
Florbela não foi reconhecida em
vida, e a frustração que isso lhe causava,somada a uma busca inquietante pôs
fim a sua vida,sendo esse fim uma deliberada opção.
Na Literatura , os
portugueses tem muito do que se orgulhar.Usando uma comparação que meu padrinho
de casamento fazia , “Shakespeare nos deu Romeu e Julieta.Camões nos deu Inês
de Castro , com a vantagem de Inês ter sido real,permitindo a Camões criar uma
lenda que envolveu a realidade. Indo além ,nessa comparação “, Inês
de Castro foi amante do futuro rei de Portugal D. Pedro, filho de D. Afonso IV.
Temendo que esta viesse a se tornar rainha, Inês de Castro foi assassinada em
1355 pelos ministros de D. Afonso.
Inconformado da morte
da amada, D. Pedro ordenou que a vestissem com roupas nupciais e a colocassem
no trono, e obrigou que os nobres lhe prestassem reverência, por isso,
costuma-se dizer: “A infeliz foi rainha depois de morta”. Este é um episódio
lírico-amoroso arraigado no imaginário português e simboliza a força e a
veemência do tema amoroso para Portugal. “
É nesse contexto que
Francisco José da Gama Caeiro e outros portugueses colocam Florbela Espanca: “
A poetisa que fez poesia depois de morta”.
Criada numa época e
numa sociedade em que a mulher era sufocada,Florbela Espanca esforçava-se por
escrever versos perfeitos.Submetia-se constantemente à críticas e, nesse
aspecto, discordo com os que opinam que a exclusão de que era vítima tornasse
sua obra um calabouço de suas emoções e posições.Ao contrário, sua obra é um arcabouço de sentimentos e idéias
e o leitor é convidado a participar dessa experiência.
Em vida publicou dois
livros , ambos financiados pelo seu pai.
No soneto de abertura
do “ Livro das Mágoas”ela nos faz participar :
“Este livro é de
mágoas. Desgraçados que no mundo passais, chorai ao lê-lo! Somente a vossa dor
de torturados pode, talvez, senti-lo e
compreendê-lo. Este livro é para vós.
Abençoados os que o
sentirem , sem ser bom nem belo! Bíblia de tristes ... Ó desventurados, que a
vossa imensa dor se acalme ao vê-lo! Livro de Mágoas ... Dores ... Ansiedades!
Livro de Sombras ... Névoas e Saudades! Vai pelo mundo ... (Trouxe-o no meu
seio ...) Irmãos na dor, os olhos rasos de água, Chorai comigo a minha imensa
mágoa, Lendo o meu livro só de mágoas cheio! ... “
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