quarta-feira, 3 de setembro de 2014

FLORBELA - A POETISA QUE FÊZ POESIA DEPOIS DE MORTA





A Língua Portuguesa é riquíssima e intensa .Por esse aspecto nosso idioma abriga  obras sublimes e a poesia encontra a ferramenta certa de expressão exibindo intensidade inigualável.

A Poesia expressa um sentimento, fazendo uso da linguagem como ferramenta estética.O material da arte brota dentro do artista e ao externa-lo,a obra toma forma e o artista diminui.A “gestação” desse material é um processo complicado pois,sendo expressão humana e metafísica, esta sujeito às emoções e às experiências vividas por quem cria  arte.

Florbela Espanca não é exceção.Ao contrário,é o típico exemplo de um caldeirão de emoções , que , em ebulição ,expele de maneira rítmica ,porém vigorosa ,seu inconformismo e seu desencanto para com a vida.

Florbela não foi reconhecida em vida, e a frustração que isso lhe causava,somada a uma busca inquietante pôs fim a sua vida,sendo esse fim uma deliberada opção.
Na Literatura , os portugueses tem muito do que se orgulhar.Usando uma comparação que meu padrinho de casamento fazia , “Shakespeare nos deu Romeu e Julieta.Camões nos deu Inês de Castro , com a vantagem de Inês ter sido real,permitindo a Camões criar uma lenda que envolveu a realidade. Indo além ,nessa comparação “, Inês de Castro foi amante do futuro rei de Portugal D. Pedro, filho de D. Afonso IV. Temendo que esta viesse a se tornar rainha, Inês de Castro foi assassinada em 1355 pelos ministros de D. Afonso.
Inconformado da morte da amada, D. Pedro ordenou que a vestissem com roupas nupciais e a colocassem no trono, e obrigou que os nobres lhe prestassem reverência, por isso, costuma-se dizer: “A infeliz foi rainha depois de morta”. Este é um episódio lírico-amoroso arraigado no imaginário português e simboliza a força e a veemência do tema amoroso para Portugal. “
É nesse contexto que Francisco José da Gama Caeiro e outros portugueses colocam Florbela Espanca: “ A poetisa que fez poesia depois de morta”.
Criada numa época e numa sociedade em que a mulher era sufocada,Florbela Espanca esforçava-se por escrever versos perfeitos.Submetia-se constantemente à críticas e, nesse aspecto, discordo com os que opinam que a exclusão de que era vítima tornasse sua obra um calabouço de suas emoções e posições.Ao contrário, sua  obra é um arcabouço de sentimentos e idéias e o leitor é convidado a participar dessa experiência.
Em vida publicou dois livros , ambos financiados pelo seu pai.
No soneto de abertura do “ Livro das Mágoas”ela nos faz participar :

“Este livro é de mágoas. Desgraçados que no mundo passais, chorai ao lê-lo! Somente a vossa dor de torturados pode, talvez, senti-lo  e compreendê-lo. Este livro é para vós.
Abençoados os que o sentirem , sem ser bom nem belo! Bíblia de tristes ... Ó desventurados, que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo! Livro de Mágoas ... Dores ... Ansiedades! Livro de Sombras ... Névoas e Saudades! Vai pelo mundo ... (Trouxe-o no meu seio ...) Irmãos na dor, os olhos rasos de água, Chorai comigo a minha imensa mágoa, Lendo o meu livro só de mágoas cheio! ... “







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