Outro dia postei uma música interpretada por Tina
Turner- “ We dont need another hero”-tema do filme Mad Max.A letra veio de
encontro a um tema que eu já havia abordado há algum tempo, e achei
interessante reedita-lo.Isso porque penso que não precisamos viver um Mad Max
para entendermos as mudanças de comportamento em nossas sociedades.As idéias
que exponho aqui não focam ,simplesmente , o aspecto lazer, mas partem dele
como gerador de mudanças de comportamento.Ao final do texto eu prometo deixa-la
cantar novamente !
Em
algum lugar do passado eu abordei o tema dos heróis e super heróis. Amparado pelo conhecimento de cartunistas como
Airton Marcelino consegui fazer um pequeno tour por esse universo de lazer
mostrando sua importância dentro da nossa realidade e sua evolução de acordo
com a mudança de costumes da sociedade como um todo. Agora , tento voltar ao tema ,talvez, incomodado
por alguns aspectos que acabaram por extrapolar esse universo ,fazendo que os
heróis e super heróis adquirissem vida própria dentro de nossa própria vida ,
transformando o idílio que caracteriza a criação de tais personagens numa
ferramenta de compensação de nossas fraquezas e/ou complemento de
personalidades ou mesmo substituto delas em situações de conflito. O homem sempre conviveu com o mito –(fruto de
sua própria imaginação)-surgido para explicar realidades e processos mal
compreendidos pela razão.Apesar de haver muitas opiniões, eu acredito que
a origem do mito e de heróis situa-se nas tentativas de se explicar a Criação ,
nas Cosmogonias e nas panspermias.Ainda , compondo essa coleção , muitos mitos
e heróis surgiram para completar lacunas surgidas da perda da tradição oral.
Saindo da antiguidade, o que temos observado é o surgimento de super heróis para que possamos lidar resignadamente com nossas fraquezas e incapacidades.Criamos tais personagens para lutarem contra as injustiças , contra o belicismo ,contra a opressão, contra espíritos ardilosos . Num momento me pergunto:Não seriam essas nossas atribuições?
Porque nos recusamos a reagir a tais situações,professando incapacidade e externando uma espécie de ectoplasma , um “ exo ser” que revestido de tudo aquilo que achamos correto , produtivo , forte e justo dá origem a um super herói ?
A evolução dos meios de comunicação e a interatividade fizeram com que esses personagens deixassem de ser apenas uma literatura de lazer , ou protagonistas de filmes de ação do gênero “ trash” para adquirirem vida própria num universo paralelo,universo esse que se mostra extremamente perigoso por oferecer portas de comunicação sempre abertas ao mundo real, bastando a imaginação para atravessa-las . É estranho como não nos conformamos com nossa realidade.Os assim chamados heróis do nosso mundo , aqueles que , simplesmente, dão exemplos de correção e humanidade,como por exemplo um simples motorista de táxi que devolve uma grande soma de dinheiro esquecida em seu carro , um bombeiro que salva uma vida num acidente grave , Aracy Guimarães Rosa,a esposa do grande escritor , ,são relegados ao esquecimento , ou são permitidos aos famosos quinze minutos de fama aproveitados e explorados por uma mídia sedenta de faturamento.Não, não são e não foram heróis.Praticaram ações comuns,não vestiam fantasias.Não eram mascarados, nem possuíam bíceps que lhes impedissem de pentear o cabelo!E mais.Não esmurraram ninguém , não destruíram cidades,nem voaram perseguindo o mal agarrando-se nas paredes dos prédios .
Embora saibamos que jamais seremos como os personagens que criamos , nós os criamos.
Muitos ,levando a ficção ao limite da realidade , apoiados pela interatividade surgida em jogos , assumem a fantasia do poder , da perfeição e da justiça .Num momento lutam contra o mundo que lhes parece negar um lugar de evidência e cometem as barbaridades e os “ atos de heroísmos” do filme que lhes passa na cabeça.Justiça feita, o clássico “ The End” ou “ Next Stage”(próximo estágio)surge diante dos seus olhos.Mas, tanto faz .”The End” ou “Next Stage” significam a mesma coisa:O lampejo da realidade ! E o lampejo da realidade lhes diz que eles não são quem pretendiam ser e nem fizeram o que seus olhos contemplam.E , assim , o herói interpretado por um péssimo ator desiste da farsa e como última estratégia não se permite ser pego ou vencido e se suicida.
Um herói covarde ? Não ! São dois pesos e duas medidas.São duas vidas paralelas que não obedecem as mesmas leis e parâmetros de existência .Assim , outros surgirão. A partir do século XX com suas revoluções , guerras e confronto de sistemas políticos a fertilidade dos super heróis conheceu seus melhores dias de fecundação .Super Homem lutando contra o Nazismo , Rambo saído do fiasco do Vietnan resgatou o orgulho americano , empreendendo com muito sucesso , sozinho, missões destinadas a um exército , afinal Rambo era o “ exército de um homem só”. O que torna esse quadro mais hediondo , ao meu ver é a” lei da compensação” .Super heróis necessitam combater super vilões.e assim,criamos novas formas de males que nada mais são do que a amplificação do mal que já conhecemos através de poderes estendidos e armas hecatombicas que só podem ser combatidas com mais destruição. A situação se perpetua , uma vez que os super heróis não derrotam os super vilões e vice versa . Qualquer que seja a opinião a respeito desse fenômeno , isto é , a necessidade ou não de dependermos de super heróis para levarmos a vida , os seus criadores atualizam o universo onde suas criações operam adequando-os aos novos valores .Salvo engano , a Marvel lança uma nova geração de super heróis gays, o que provocou tantos protestos quanto adesões .Histórias e roteiros de filmes são pensados com a antecedência necessária para fazer surgir uma realidade que abrigará novos super heróis ou, os mesmos em outras aventuras que serão disponibilizadas em jogos interativos que fornecerão um “lauto jantar”aos aficcionados.
Algumas tentativas de deter um pouco esse avanço surgiram no personagem do “ anti herói “.Não o anti herói aproveitador.Mas, aquele encarnado por um sujeito sonso , desajeitado , mas que consciente das aberrações do mundo acaba por encontrar uma solução.Mas, a indústria do entretenimento , ou mesmo a sociologia , ao invés de conceder-lhes o seu devido grau de importância rotularam-nos como “Cult” , aquela palavra intelectualóide que na maior parte das vezes não significa nada.Exemplos disso encontramos na figura de Carlitos que Charles Chaplin eternizou , ou o cômico Maxwell Smart , o Agente 86.Ainda que no campo do Politicamente Incorreto lembro de como certas sociedades , como a americana , transforma pessoas reais em heróis ou anti heróis como uma forma de alívio ou mesmo vingança de situações que acha injusta.Assim , conhecemos a saga de Bonnie & Clyde e John Dillinger que chegou a ser considerado uma espécie de Robin Hood, o que jamais lhe passou pela cabeça. No Brasil parece que não temos fenômenos como esses.Será que nos faltam super heróis ou anti heróis ?Isso me faz lembrar as aventuras de Mazzaropi e seu Jeca Tatu .
Eu penso que o que fortalece uma sociedade são exemplos de vida respeitados pelo caráter.São ações baseadas em valores que todos nós tão bem conhecemos . Se isso nos leva a necessidade de vivermos em função de super heróis eu não sei . O que penso é que devíamos parar de projetar nesses “ exo seres” desvios dos padrões humanos de conduta e recoloca-los em seus lugares originais , como relatores da história , ainda que mítica , e reconduzi-los à fonte do lazer , da diversão e da cultura de sentido lúdico fazendo da arte o seu rito .
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